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CARTA DO 21 FÓRUM NACIONAL DA SOJA

CARTA DO 21 FÓRUM NACIONAL DA SOJA
16/03/2010 noticias


Neste ano de 2010 o Fórum Nacional da Soja privilegiou o debate em torno de quatro temas: O Óleo Vegetal Refinado como Combustível para Motores à Diesel, Desafios e Soluções na Gestão das Empresas Rurais, Gerenciamento de Risco e Políticas para o Agronegócio, e Produção, Mercados e Preços. Os temas estão apropriados às exigências do mercado e da manutenção da empresa rural num contexto econômico competitivo e excludente, onde a crise econômico-financeira mundial, surgida em agosto de 2007, ainda não foi superada. 1) Óleo Vegetal Refinado como Combustível para Motores à Diesel Um assunto polêmico deu início ao Fórum, com a proposta do deputado Gilberto Goellner de usar o óleo vegetal refinado como combustível para motores a combustão. Na sua justificativa, ele avançou a ideia de que apenas 5% de biodiesel podem ser utilizados nos motores à diesel. Ideia esta contestada pelas empresas de biodiesel. Isso em função de que os motores não suportariam maior mistura. Ao mesmo tempo, tal adição resolveria muito pouco o problema ambiental. Todavia, seria viável para os motores operar com 100% de óleo refinado. Isso permitiria, pelo menos, a redução de 20% nas emissões de gases de efeito estufa segundo alguns exemplos práticos. O problema que foi pouco debatido se relaciona ao custo do óleo refinado para tal fim. Segundo o palestrante Sr. Paulo Morais, o biodiesel tem um custo total de R$ 2,60 o litro, enquanto o diesel chega a R$ 2,00 e o óleo de soja a R$ 1,70. Outra opção vantajosa seria, para o produtor, a troca de grão de soja por óleo refinado, o que resultaria, aos preços de hoje, em um custo de R$ 1,42 por litro para o combustível vegetal. Dito isso, um problema que se apresenta é a pouca disponibilidade hoje do óleo vegetal de soja. Nesse sentido, o Brasil precisaria avançar na ocupação das áreas degradadas com o plantio de soja. Último inconveniente é que se torna necessário o uso do óleo vegetal refinado, o que aumenta o custo do produto final. 2 - Desafios e Soluções na Gestão das Empresas Rurais1 A estrutura da empresa familiar se concentra sobre cinco pilares: os negócios da empresa, os cargos de cada membro, a gestão do dinheiro, o poder de decisão, e a perpetuação da unidade familiar. Nesse sentido, a gestão da empresa rural familiar passa pela solução do conflito família x negócio, onde o risco de se confundir as questões familiares com os negócios da empresa familiar é muito comum e danoso. Para tanto, dois caminhos são fundamentais: a organização do negócio familiar, e o planejamento da sucessão (transição). Os resultados esperados, quando estes dois caminhos forem bem trilhados, são: o fortalecimento da relação familiar e a consolidação e crescimento da empresa para atuar nas próximas gerações. As principais razões para a organização do negócio familiar seriam: reduzir conflitos, gerar e exigir compromissos, definir a participação dos pais e filhos no negócio, instrumentar a administração, estabelecer as relações societárias, criar um código de conduta para participação da família no negócio, estabelecer sistemas de controles econômicos e financeiros, tipo os Demonstrativos de Resultados, o Fluxo de Caixa e os Orçamentos, contemplar a perspectiva dos sócios na gestão e fora dela, e estabelecer rotinas de reuniões entre os membros da administração e demais membros da família. Por sua vez, as definições na estruturação da sucessão (transição) passam pelas respostas às seguintes questões: Como ocorrerá a transmissão de terra, dos pais para os filhos? A transmissão se dará através da Pessoa Física ou de uma ou mais Pessoas Jurídicas? O patrimônio transferido para os filhos será localizado ou não? Vantagens e Desvantagens. O poder da administração ficará com os pais? Com pais e filhos? Com pais e alguns filhos? Como será protegido o patrimônio que vai ficar com os filhos no futuro, perante os cônjuges, embora os mesmos possam participar do negócio? Em nome de quem serão feitos os novos investimentos? Como se dará a estruturação, para que possam ser reduzidos os custos inerentes a transmissão do patrimônio? Além disso, deve-se levar em conta ainda a formalização do acordo de cotistas e do código de conduta com relação aos sócios da nova empresa ou empresas, a formalização da relação entre os proprietários da empresa e a exploração do negócio, já que são coisas diferentes, e a formatação da nova tributação e da parte fundiária, que traga como consequência, redução dos impostos e proteção do patrimônio. No fundo, o uso da tecnologia e a organização da empresa rural, passando pelo ajuste das questões de transição, passam pelo fato de que os processos devem ser modernizados constantemente. Por exemplo: se a agricultura continuasse com a tecnologia de 65 anos atrás não haveria terra suficiente para produzir a quantidade de alimentos necessária hoje para o mundo. Todavia, a terra sozinha não garante sucesso Ou seja, a terra continuará produzindo, porém, o número de produtores continuará diminuindo. Assim, deveremos alcançar apenas 9% de brasileiros no meio rural em 2025. Paralelamente, o resultado econômico das propriedades rurais depende da qualidade do gerenciamento. Hoje, os empresários rurais resistem ao controle econômico-financeiro da propriedade. Para se ter uma ideia da importância do assunto, isoladamente os impostos são os maiores custos de uma propriedade rural. Enfim, ficou o recado de que se deve ter consciência, para a boa gestão da empresa rural, de que a família deve trabalhar para a empresa e não a empresa trabalhar para a família. 3 - Gerenciamento de Risco e Políticas para o Agronegócio2 A nossa realidade atual indica que os setores mais dinâmicos no consumo mundial se concentram nas carnes, particularmente a carne de frango, e o da soja e seus derivados. Nesse contexto, em termos de produção o Brasil avançou muito graças a estabilidade econômica, a expansão de seu mercado interno, o aumento das exportações, o crescimento da produção e ganhos em escala, e o retorno à política de apoio ao setor rural. Todavia, o agronegócio enfrenta riscos inerentes ao seu próprio processo de produção, tais como: de produção, dos contratos, de crédito e de preços. Para melhor superar tais riscos o fundamental é obter as melhores informações. Particularmente no que diz respeito ao risco de preço, necessário se faz controlar a volatilidade. Para tanto, importante se faz valorizar o mecanismo de mercado futuro, usando as estruturas das bolsas de mercadoria. Além disso, importante se faz usar igualmente o mercado de opções de venda ou de compra. Nesse contexto, importante se faz destacar que a soja tem enorme liquidez na Bolsa de Chicago, tendo negociado, em 2009, 30 vezes a safra mundial. Já na BM&F, o volume de liquidez é ainda pequeno, com a soja representando apenas e ainda 4,6% do total negociado em nossa bolsa. Enfim, destaque foi dado ao fato de que a BM&F está se globalizando, já tendo sociedade com a Bolsa de Chicago, com participação mútua de 5%. A BM&F já é a terceira maior bolsa do mundo, com valor de mercado em torno de US$ 13 bilhões. Diante desta realidade, importante salientar que o Brasil é um dos países que menos subsidia a agricultura no mundo, com 4,7% na média dos últimos anos. Ao mesmo tempo, é fundamental que as cadeias produtivas sejam adensadas no Brasil, que se avance em novos mercados, processos e sistemas, que se realize um "casamento" entre a agricultura e o sistema financeiro. 4 - Produção, Mercados e Preços Este tema, de natureza conjuntural, pela expectativa que o mesmo sempre gera nos diferentes Fóruns, acabou destacando particularmente as tendências do mercado da soja para 2010, os riscos de 2011 e a financeirização atual do mercado agrícola. No que diz respeito às perspectivas da soja para 2010/11 importante considerar que já não são apenas os fundamentos de oferta e demanda que movimentam o mercado na atualidade. Hoje o sistema financeiro atua muito no setor, com forte presença dos Fundos nesse mercado. Assim, há uma forte relação do dólar (e seu valor com as outras moedas) e o comportamento das cotações da soja nas Bolsas e outras commodities. Pela análise da oferta e demanda mundial, tem-se hoje uma produção muito superior ao consumo. A produção dos EUA alcançou 91,4 milhões de toneladas enquanto a produção da América do Sul, primeira região produtora do mundo, chegará a 130 milhões de toneladas, divididas em 66,5 milhões de toneladas no Brasil e 52 milhões de toneladas na Argentina (segundo o Rally da Soja a produção brasileira poderá ser ainda maior). Por sua vez, a demanda da China alcança 55,7 milhões de toneladas, sendo 44 milhões importadas para 2009/10. Porém, a relação estoque/consumo subiu para 21%, contra 18% no ano anterior e 9% há dois anos. Hoje os estoques chineses chegam a 11,5 milhões de toneladas, fato que tem auxiliado na queda dos preços internacionais. Em síntese, enquanto em 2008/09 a produção mundial de soja foi menor do que o consumo, essa relação se inverteu em 2009/10, com a produção ultrapassando largamente o consumo, fato que aumentou agora os estoques de passagem, derrubando os preços. Nesse contexto, as cotações da soja em Chicago devem permanecer entre US$ 9,00 e US$ 10,00 por bushel, não havendo perspectivas de aumento no médio prazo. Diante disso, os produtos perderam rentabilidade por não terem vendido antecipadamente sua safra. Mesmo assim, a rentabilidade gaúcha deverá ficar ao redor de R$ 316,00/hectare. No caso brasileiro e gaúcho, atualmente o preço está muito próximo do limite da relação com o custo. Para o futuro, será o plantio dos EUA que irá direcionar a questão dos preços, além da influência constante dos Fundos. Nesse quadro, houve divergência de posicionamento entre os dois palestrantes. O Sr. Rubin considerando que os produtores dos EUA devem plantar mais milho do que soja, enquanto o Sr. Muraro defendendo o contrário. Todavia, há um consenso de que o potencial de produção nos EUA, para a nova safra, chegue novamente a 90 milhões de toneladas. Na Argentina pode chegar a 55 milhões de toneladas, equanto no Brasil o mesmo atinge a 68 milhões de toneladas. Isso tudo se o clima for normal. Nessa situação os estoques finais mundiais, para 2010/11, devem crescer para 60,3 milhões de toneladas. Assim, não há perspectivas de aumento de preços para o próximo ano, reduzindo a rentabilidade do produtor gaúcho para algo em torno de R$ 303,00/hectare. Outros aspectos importantes salientados, todos na direção de que o mercado será ainda mais difícil em termos de preços para o novo ano. Nesse momento, a relação estoque/consumo nos EUA é de 26% contra 8,8% há um ano, porém, os preços estão mais elevados, dando uma demonstração da força especulativa dos Fundos nas Bolsas. Paralelamente, a China reduz suas importações em relação ao ano anterior. Já nos EUA, no ano passado, a relação soja/milho atingiu o quarto valor mais elevado desde 1967, fato que complica ainda mais a possibilidade de melhoria dos preços mundiais da oleaginosa. Enfim, precisamos readequar a relação de plantio entre a soja e o milho. Se isso não for feito os preços da soja continuarão baixando. Por outro lado, causa estranheza porque o Rio Grande do Sul, diante deste quadro que se desenhava, só 11% da safra foi vendida. Hoje, o suporte em Chicago é de US$ 8,78 por bushel. Caso isso venha a ocorrer, sem modificações no valor do dólar, e com prêmios baixos , os preços em reais despencam, podendo romper o atual piso de R$ 30,00/saco no Rio Grande do Sul. Por outro lado, o mundo está na dependência do consumo chinês, o que é extremamente perigoso. Junto a isso foi destacado o fato de que a área plantada com trigo nos EUA será menor, sobrando área para a soja e o milho. A boa notícia é que, no curto prazo, a previsão de excesso de chuvas no plantio norte-americano pode elevar momentaneamente elevar os preços brasileiros da soja. Porém, a síntese final é que as tendências apontam para um mercado com preços baixos para o segundo semestre de 2010 e mesmo para o ano de 2011. Nesse contexto, Muraro avançou o conselho de que "se os Fundos elevarem as cotações em Chicago em abril/maio os produtores devem aproveitar a oportunidade para negociarem sua soja". Afinal, a escassez terminou e isso indica tendência de preços em baixa, com estoques de soja que devem continuar subindo para 2010/11.


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